POLÍCIA LEVA 13H PARA REGISTRAR BO - MATÉRIA PUBLICADA NO JORNAL CORREIO POPULAR NO DIA 01/02/2020

Morosidade no atendimento de flagrante por embriaguez evidencia precariedade do sistema
 
A falta de policiais civis nos distritos de Campinas fez com que agentes rodoviários esperassem cerca de 13 horas para apresentarem um flagrante por embriaguez ao volante, na noite de anteontem. Os policiais chegaram na 2ª Delegacia Seccional às 20h20, mas só começaram a ser atendidos por volta das 9h20 da manhã de ontem. Eles passaram a noite toda com o preso e não puderam sequer descansar. Eles deixaram a unidade por volta das 10h30. O motivo da demora foi o grande número de flagrantes e de atendimentos que havia na unidade, somado ao déficit de policiais civis e a sobrecarga dos serviços pelos agentes. Além de atender ao público, eles também tiveram de levar custodiados para fazer corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).
 
A falta de policiais civis no Estado não é uma queixa atual. O déficit de agentes na instituição já leva cerca de dez anos, mas nos últimos meses, segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Civis da região de Campinas, Aparecido Lima de Carvalho, a falta de efetivo tem sido cada vez maior e se agrava, ainda mais, com a reforma da previdência e o PLC (Projeto de Lei complementar) 80/19, que impulsiona muitos policiais civis a solicitarem suas aposentadorias temendo perda de direitos. “Aproximadamente 40% do efetivo já têm condições de se aposentar. Ou seja, a Polícia Civil está velha e o Estado não repõem seu efetivo”, comentou Carvalho.
 
Além disso, segundo os policiais, a falta de funcionários se dá também pelo baixo salário que tem desestimulado tanto quem está na instituição como quem quer entrar, já que outras profissões, financeiramente, são mais vantajosas.
 
Somente na 2ª Delegacia Seccional, que atende cerca de 60% da demanda da cidade, responsável pelos distritos de Aparecida, Ouro Verde, Campo Grande e regiões do São José, Campos Elíseos e Campo Belo, registra uma média de 24,38 ocorrências por dia, incluindo flagrantes.
 
Em 2019, a unidade registrou 7.850 boletins de ocorrências, incluindo o atendimento de cerca de 800 flagrantes. Quando a unidade foi inaugurada, em 2014, cada plantão contava com quatro agentes para o atendimento, dois delegados, dois escrivães e uma agente de telecomunicações.
 
Atualmente esse quadro reduziu em 50%. Cada turno, trabalha com um delegado, um escrivão, dois investigadores, que atendem o público, e uma agente de telecomunicações, além dos agentes que trabalham no setor administrativo durante o expediente.
 
Além de atender as ocorrências simples e flagrantes, os policiais são obrigados a parar o atendimento e levar drogas no Instituto Criminalístico (IC), presos para exames de corpo de delito no IML, locais de crimes, como homicídio, suicídio e de acidentes com vítimas fatais e também levar presos para cadeias. O transporte de custodiados tem que ser feito separado por sexo e idade. Ou seja, adolescentes não podem ser colocados na mesma viatura de um maior.
“Infelizmente o policial que está no atendimento tem de parar tudo e se deslocar para o IC, IML, pois não há funcionários. Isso gera uma morosidade enorme no trabalho e a população não quer saber, ela quer ser atendida. Muitas pessoas saem das unidades dizendo que vão fazer queixa na corregedoria”, disse um policial, cujo nome foi preservado.
 
Na noite de anteontem, a unidade registrou a apreensão de quatro menores e a prisão de três maiores em ocorrências distintas. Em todos os casos, os detidos precisaram ser encaminhados ao IML para exame de corpo de delito. Como a remoção de presos era feito pela equipe do “Bonde”, desde o dia 20 deste mês, por falta de funcionários, o serviço passou a ser feito pelos policiais que estão nas unidades, ou seja, plantonistas que estão no atendimento.
O Bonde, que trabalha com apenas duas equipes, se reveza durante o expediente. “Diante do paradoxo, o que o governo poderia e deveria adotar era um plano ‘B’, como, por exemplo, contratar policiais aposentados para serviços administrativos, desafiando desta forma, os policiais civis que estão em desvio de função”, comentou Carvalho.
 
A falta de policiais civis em Campinas não reflete apenas na 2ª Delegacia Seccional. Atinge também o plantão da 1ª Delegacia Seccional e das unidades que trabalham em horário de expediente. “Fazemos o possível para prestar bom atendimento para a população, mas nosso maior medo é que em algum momento possa acontecer algo de pior. Como por exemplo, um preso fugir ou acontecer algo grave durante a ausência do policial no atendimento na unidade”, falou um policial.
 
Outro lado
 
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que durante a atual gestão autorizou a contratação de mais de 20 mil novos policiais. Só para a Polícia Civil são mais de 5.400 novas vagas. Já estão na Acadepol os 1.453 aprovados no concurso de 2017 e empossados em dezembro. Atualmente, está em andamento a nomeação de outros 850 aprovados no mesmo certame, sendo 250 para vagas de delegados e 600, de investigadores.

 
 
Att,
Aparecido Lima de Carvalho
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